quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Guarda-Redes sem tactica?! Não, claro que não!!


Foto: Equipa Feminina Futsal Universidade da Beira Interior (AAUBI)

Ao ler atentamente, “ Guarda-redes, Um Posto Específico ” do Professor André Teixeira e somando a isso a experiência que já adquiri ao longo destes anos, fez-me reflectir e elevar ainda mais a importância de um guarda-redes no processo evolutivo táctico de uma equipa.

“O guarda-redes (GR) constitui um elemento de excepção, de privilegiados direitos e de árduos sacrifícios. Este jogador específico assume multifacetadas funções, e exigentes responsabilidades.

O GR é um jogador de distinção, perfeitamente diferenciado dos seus colegas. O próprio regulamento de Futsal refere que no terreno de jogo só podem estar cinco jogadores, um dos quais é obrigatoriamente GR, o que demonstra alguns privilégios de actuação no jogo. Até em termos estéticos é diferente, pois tem que equipar de forma distinta dos seus companheiros. Tem uma situação privilegiada em termos de colocação e de comando da equipa, e em certos casos (Liga Espanhola) caso não haja capitão de equipa no terreno de jogo, o GR tem autoridade moral para ser o interlocutor da equipa com o árbitro.

No entanto apesar de todas estas características importantíssimas, e qualidades indispensáveis, o máximo a que um GR pode aspirar é não sofrer qualquer golo. Raras vezes um GR é considerado o “melhor em campo” ou o “herói do jogo”, pois mesmo quando evita a derrota da sua equipa, com actuações brilhantes, salvando muitas situações de golo iminente, o público considera que este não fez mais que a sua obrigação, sendo maioria das vezes, azar dos avançados, e não mérito do GR. Apenas quando salva a equipa de um pretenso golo que sofreria na marcação de uma grande penalidade, se torna o herói.

Quando são referidos os sistemas de jogo fala-se sempre em 2*2, 3*1 ou 4*0, então o jogo de Futsal apenas tem 4 jogadores? O GR constitui assim um verdadeiro herói com pés de barro, tão importante e despercebida é tantas vezes a sua actuação.” (Prof. André Teixeira)

Ao longo destes anos fui Treinador Principal e ultimamente Treinado de Guarda-Redes, não vejo isso como uma descida na carreira, mas como uma evolução fundamental para compreender o jogo de uma forma mais global e coesa. Neste momento não tenho qualquer dúvida da importância dos guarda-redes tanto nos processos tácticos defensivos bem como ofensivos.

Todos os sistemas defensivos fecham espaços em certas zonas do campo, mas abrem espaços noutras, idealmente zonas essas de grau maior de dificuldade em colocar a bola por parte do ataque. Se o guarda-redes estiver preparado para ler os indicadores pertinentes, de forma a antecipar o local onde a bola poderá entrar, então teremos um sistema defensivo ainda mais fechado, abrindo poucas possibilidades de sucesso atacante. No sistema ofensivo, o guarda-redes pode funcionar como uma linha de passe segura, podendo girar as bolas, tanto em largura como em profundidade, para as zonas onde o bloco defensivo adversário não está a ocupar, criando desequilíbrios imediatos.

Para isto tudo ser possível, é impensável continuar a acontecer aquilo que se vê por aí em muitos e muitos pavilhões deste país durante os treinos, que é os treinadores a explicar as tácticas, estando à sua volta todos os jogadores, excepto os guarda-redes que estão junto as balizas, esperando pelo inicio do exercício. Colocar os guarda-redes neste modelo de compreensão e integração táctica é fundamental para o sucesso de uma equipa que tenha aspirações a chegar mais acima, mas fundamentalmente a trabalhar com mais qualidade.

Guarda-Redes sem táctica?! Não, claro que não!

Guarda-Redes com táctica?! Sim, depende de nós treinadores!


João Lino