"Estamos hoje em dia inseridos numa modalidade em franca ascensão mediática e que além da modalidade de pavilhão com mais atletas federados, é a mais praticada em Portugal (se somarmos aos Profissionais, os Semi-Amadores e Amadores). Mas, rapidamente este cenário poderá mudar se não formos nós, Dirigentes, Treinadores, Atletas, Pais de Atletas e Amigos do Futsal a levarmos a modalidade para onde ela deve caminhar.É neste contexto que nasce nos Dirigentes e nos Treinadores de escalões de formação o Paradigma básico da sua existência:
Ganhar ou Formar?
Para mim a resposta é óbvia e única, Formar Ganhando.
Custa-me observar um jogo de formação e ver jovens praticantes semana após semana, treino após treino a não terem a sua oportunidade para demonstrarem o seu valor, que ainda que pequeno se baseou num esforço provavelmente maior do que o praticante mais dotado ou que é mais opção do treinador. Digo-o porque enquanto treinador de formação já o fiz, e hoje sei reconhecer o quanto errei. Se por um lado fiz de uma equipa campeã, por outro acabei com os sonhos de tantas crianças que a única coisa que me pediam treino após treino, jogo após jogo eram alguns minutos para se sentirem parte integrante de algo que para eles era tão importante.Ao jovem que se iniciou na modalidade quantos treinadores já se preocuparam em ensinar as regras do Futsal, os conceitos básicos do passe e da recepção, a movimentação típica num jogo de Futsal, etc, etc, etc…? Quantos Dirigentes já se preocuparam em perceber o envolvimento social e humano do jovem praticante? Quantos pais já se preocuparam na realidade com a formação desportiva dos seus filhos em vez de quererem à força terem em casa um Falcão? É disto que estou a falar! Isto é formar, ou é acumular com a mesma virtuosidade as frustrações de crianças e o pó nas taças da vitrina?Até que ponto é importante sacrificar a formação em prol de uma vitória? Existem treinadores de formação que o que desejam é vencer a qualquer custo, se for preciso sem se preocuparem em perder dois ou três jogadores apenas porque não têm tempo para perder (ou a ganhar) em explicar mais algumas vezes a um atleta que naquele momento se mostra menos disponível ou menos dotado. Mas o que ganham com isso? Uma Taça, um conjunto de medalhas? É verdade, mas ganham também uma lista infindável de atletas que desistiram da modalidade apenas porque alguém subverteu o que parecia obvio, fazerem todos parte integrante de uma equipa.Ao jovem praticante, e desde muito cedo, depois de ensinar as regras do jogo, os conceitos do mesmo, os modelos e tácticas possíveis, devemos todos (Dirigentes, Treinadores e Pais) explicar o conceito de equipa, e além disso exemplifica-lo, como? Treinando, Explicando as vezes necessárias o que é pretendido, mostrar com todos os meios e argumentos as virtuosidades da modalidade… e obviamente, Jogando.Estou seguro que qualquer treinador de formação se sentirá muito mais realizado com um, apenas um jogador, que tenha chegado no inicio de época à equipa sem saber fazer um passe, e que no final seja uma opção de treino, jogo e saiba as regras e conceitos da modalidade, do que qualquer Taça ou medalha de Campeonato. Só assim a modalidade seguirá o seu caminho, e só assim teremos no futuro aquilo que sempre ambicionámos, o Futsal ganhar o seu espaço.Deixo um pensamento que li em tempos:“O ensinar de uma prática desportiva vai muito para além da complexidade de ensinar os fundamentos da modalidade. Desde logo o ponto de partida deve ser o do ensino da Formação Cívica, Humana, do Carácter e do Relacionamento Interpessoal.Assim, o Treinador precisa de ser muito competente do ponto de vista Técnico, mas também assume um papel fundamental o Ponto de vista Humano.
Na compreensão destas duas importantes condicionantes, o Treinador concluirá que deve estender o seu conhecimento a todos os seus Atletas, e não apenas aqueles que para si, naquele momento, lhe parecem os mais talentosos... "
Rodrigo Pais de Almeida
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